O SEQUESTRO DO CORPO:
A TRAMA DO ESQUECIMENTO DOS SIGNIFICADOS
O seqüestro do corpo é uma das mais cruéis modalidades contemporânea da violência.
O seqüestro do corpo é uma privação total e absoluta daquilo que chamamos de “horizonte de sentido”.
Sentido é tudo aquilo que atribui coerência, liga, orienta e estrutura. É a partir deste horizonte de sentido que pensamos, agimos, amamos, desejamos, vivemos.
Estes significados assumem os mais diversos formatos em nossa condição humana.
Essa gama de significados, de valores, ocupa espaços muito diferentes na vida das pessoas, de maneira que se para uma pessoa aquilo é fundamental em termos de significados, para outra pode ser mero detalhe.
Quando nos referimos aos significados, nós estamos tratando de realidades materiais e imateriais.
Quando uma pessoa é seqüestrada, o primeiro rompimento se dá com a materialidade de seus significados. O corpo sofrerá a violência de não poder ir e vir. Terá que obedecer ás ordens do recém-chegado, daquele que até então não pertencia ao seu mundo.
O seqüestrador inicia no seqüestrado um processo de privações extremamente doloroso.
Ao ser afastado de seu mundo particular e de tudo o que ele representa, o seqüestrado sente-se privado de ser ele mesmo.
O esquecimento do ser, realidade muito comum nos casos de seqüestro do corpo, é uma forma de aniquilamento de nossa condição primeira, nosso estatuto original, e que chamamos de identidade.
A identidade nos diz sobre nós mesmo.
Ao dizer “eu sou isso”, naturalmente estou dizendo também “que não sou aquilo que negaria o que sou”.
Essa identidade necessita de ser cultivada. Vivemos constantemente esse processo. Identidade estabelece limites, assim como conceitos limitam a realidade.
Limitar é delimitar o local do encontro. Um espaço delimitado é um espaço encontrado, identificado. Nossa identidade nos limita, não para nos empobrecer, mas, ao contrário, para nos favorecer o crescimento. Aprender e conhecer os limites que se tem é um jeito interessante de potencializar as qualidades que nos são próprias.
Portanto, ao negar identidade de uma pessoa, todas as suas potencialidades ficam fragilizadas.
Ao ser retirada de seu horizonte de sentido, a pessoa tem negado todos os seus elementos de identificação no mundo e com o mundo.Privado de sua liberdade, o corpo sofrerá os limites que desencadearão a condição de vítima.