A CONDIÇÃO DE VÍTIMA
Estabelecido o seqüestro do corpo, inicia-se então um processo ainda mais destruidor que é a “condição de vítima”.
A manutenção da vida agora depende do estranho recém-chegado. A consciência da dependência e a certeza de que a vida agora já não lhe pertence, porque está em outras mãos, colocam o seqüestrado numa condição de inteira e total fragilidade.
Uma vítima é alguém cujas as fraquezas podemos explorar, e é justamente este método utilizado na maioria dos seqüestros do corpo.
Quanto maior a sensação de vítima no seqüestrado, maior será o controle do sequestrador. Quanto pior for o tratamento no cativeiro, maior será o medo e conseqüentemente, a rendição da vítima.
Sentir medo é um jeito estranho de atribuir autoridade a alguém.
O senso comum nos ensina que o cão tem o poder de perceber o nosso medo, e isso o encoraja para ns agredir. O medo nos faz vítimas, acentua ainda mais o esquecimento do que podemos.
Temer alguém e obedecer ás suas ordens são desdobramento estranho da perda de identidade.
O medo do inimigo pode conduzir a pessoa a uma relação amistosa. O medo tem o poder de gerar gentilezas agressivas, silenciosas, favorecendo a manutenção de uma fria guerra entre as pessoas.
Assim que estabelecida, a condição de vítima traz uma relação tranqüila para a relação entre seqüestrado e seqüestrador.
A condição de vítima cessa a violência dos alardes, para dar lugar a uma violência mais sutil, silenciosa.