Padre Fábio de Melo em conferência:
"Ensinar como a experiência do cuidar"
31/10/2008 - por Jornal do Tocantins
Ensinar como a experiência do cuidarConferência - Para o padre Fábio de Melo, o conhecimento nunca está terminado; ele lembra que este é uma teia que deve ser tecida a partir da superação dos limites.
O ato de cuidar é um dos eixos transformadores do mundo. Esse é um dos principais ensinamentos que os educadores presentes na segunda noite do Congresso Pensar apreenderam da conferência A Experiência Antropológica do Cuidado, proferida pelo padre Fábio de Melo, sacerdote graduado em Filosofia e Teologia e pós-graduado em Educação e em Teologia Sistemática. O evento, que gira em torno do tema Educação: Inclusão pelo Esporte, Arte e Cultura, é realizado pelo Jornal do Tocantins - em parceria com a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) e a Federação do Comércio do Estado do Tocantins (Fecomércio) - desde quarta-feira na Capital e se encerra amanhã.
“A experiência do cuidado nasce em nós a partir do sofrimento e da estrutura de limites estabelecida”, ponderou o sacerdote, que no decorrer da sua conferência fez pontes entre a filosofia e a teologia, enquanto compartilhava o seu pensamento com as centenas de educadores presentes. “O que dizemos ser o pecado original não é pecado nem é original. É apenas o desejo de superar limites”, comparou, sem dúvida surpreendendo a muitos participantes.
Entre o estudioso da filosofia e a sua opção pelo sacerdócio, ficava evidente que a platéia tinha diante de si uma pessoa encantada pela condição humana. “Esbarramos o tempo todo na experiência do nosso limite e se não o fizéssemos, não iríamos a lugar algum. Se você já se sentiu perdido, conhece a experiência do cuidado”, afirmou, salientado que a beleza está na superação. “Se não consigo embrulhar amorosamente o meu limite, jamais saberei cuidar”, completou.
No entanto, alerta padre Fábio, a grande dificuldade é reconhecer o nosso limite e sem isso, afirma, jamais será possível superá-lo. “Temos de administrar nossos sentimentos e não sermos administrados por eles. A fragilidade humana é assustadora. Temos de nos dar conta da nossa humanidade todos os dias e construir uma visão positiva dos limites”, ensinou.
ConhecimentoNo decorrer de toda a sua conferência era evidente a analogia com o ato de educar. Afinal, ele mesmo definiu que ensinar é a experiência do cuidar e lembrou: “o conhecimento nunca está terminado. É uma teia que vamos tecendo a partir da superação dos limites: eu respeito o limite do outro e estabeleço com ele o pacto do cuidado, ao mesmo tempo em que ambos avançamos”. E arrematou: “não posso negar o que o outro é e nem encarar o não saber como limite. Toda estranheza cai por terra se dividimos nossas necessidades.
Para padre Fábio, nem sempre o professor que marca é o mais inteligente. É aquele que olha com cuidado. Lembrando que Jesus tinha um olhar positivo até para as misérias humanas, o sacerdote conclamou os professores a voltarem a se amar. “No passado, vocês tinham o reconhecimento dos alunos, dos pais, da escola e os salários eram mais dignos. O mundo mudou. Está longe o tempo em que o professor era recebido de pé. Mas não é hora de sentar e chorar. Vocês têm algo a fazer. Estão grávidos de futuro”, comentou, tomando emprestada uma frase da escritora Clarice Lispector. “Cuidar, portanto, é revestir o limite da possibilidade.
Pedagoga, Poliana Parente Almeida declarou, após a conferência, que a fala do padre Fábio de Melo era o que esperava. “Vim sem um conhecimento prévio do tema que ele iria tratar, mas tudo o que disse foi válido para levarmos para as nossas relações humanas: respeitar o outro e respeitar a nós mesmos e, a partir daí, construir vínculos”, concluiu, enquanto o palestrante da noite encerrava sua intervenção lembrando que o educador precisa resgatar a paixão pelo ser humano e que a tecnologia é apenas um recurso a mais para fazê-lo brilhar.
Já a professora Nilcéia Resende, da Escola Castelinho, de Gurupi, foi surpreendida, ao final da palestra, com os recadinhos de seus alunos que foram lidos e repassados à ela pelo padre Fábio de Melo.