SEQUESTRADOS E SEQUESTRATODORES..
Toda vez que falamos de seqüestro da subjetividade, estamos evocando o contexto de risco em que está situada constantemente a nossa singularidade.
Quando falamos de seqüestro da subjetividade, não há a necessidade de cativeiro material. O roubo é mais profundo, pois é levado muito mais que a materialidade da vida.É a profanação da subjetividade, o acesso inescrupuloso aquela realidades do sujeito particular, forçando-o a desprender de si mesmo para viver uma forma estranha e socializada de escravidão e dependência.
Num primeiro momento, o seqüestro tem as mesmas características da conquista
Seqüestro da subjetividade acontecem o tempo todo. Todos nós estamos expostos aos riscos. Não é necessário muito tempo para que alguém nos leve de nós. Uma palavra, um olhar, uma opinião, tudo pode ser laço que nos prende e aos poucos nos leva de nós
Foi o que aconteceu com aquela menina.....
No início, era apenas uma aproximação despretensiosa, e por isso a família não viu a necessidade de intervir.
Os encontros eram ocasionais e o rapaz nem chegou a conhecer os familiares dela.
A história começou a ficar mais séria quando, meses depois, os pais perceberam os maus resultados no colégio. Com tais resultados surgiu também uma tristeza desoladora. A menina mergulhou num processo terrível. Tentou duas vezes o suicídio.
Levada a um terapeuta, finalmente as razões do sofrimento foram conhecidas.
A menina estava apaixonada pelo rapaz há mais de um ano e, desde que ficaram juntos pela primeira vez, ele a transformara num objeto de seu prazer. Ele mantinha um relacionamento de mais dois anos com uma outra menina. Ela era a “outra” e sempre soubera disso.
Com apenas 16 anos, aquela menina já tinha enfrentado, sem o conhecimento de seus pais, os perigos de um aborto caseiro. Ele a obrigara a fazer tudo isso.
As humilhações eram comuns. Não a procurava, senão para sua satisfação pessoal. A menina cumpria o papel de “prostituta socializada”.
Ela havia perdido a capacidade de dizer “não” aos pedidos dele.
O conflito ficou estabelecido e naturalmente a angústia e o sofrimento chegaram.
O medo de romper totalmente com o rapaz estava impedindo-a de tomar a decisão certa para a sua vida. Preferiu reduzir a sua vida aquele espaço miserável que lhe era oferecido.
Desprovida de amor próprio, resignou-se a viver como objeto de prazer de seu seqüestrador. Deixou de ser pessoa.
É estranho, mas essa menina é o retrato de uma realidade muito comum entre nós. Seqüestrados que aceitaram a condição de vítima.
O rapaz teve acesso à totalidade daquela menina. Certamente investigou suas fragilidades e fez questão de utiliza-las. Rendida de amor, ela aceitou o pouco que ele lhe dava, pois temia não sobreviver sem o seu amor de precariedades.
Mediante ajuda terapêutica, a adolescente pôde retomar as rédeas de sua vida e expulsar o rapaz e suas artimanhas ardilosas.
Toda relação humana necessita de cuidados, porque sempre transita nos limites tênues entre amor e posse. Do amor à posse o caminho é curto. Basta que percamos o foco de nossa identidade para que corramos o risco de alguém administrar nossa vida, roubando-nos de nós mesmo.
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