O Padre que é Pop
Falando com exclusividade à FOLHA, o fenômeno musical Fábio de Melo rebate as críticas e fala da responsabilidade do sucesso.Fernanda Borges
| Cianorte - Um padre que se destaca pela jovialidade e a forma como se apresenta. Esse é o padre Fábio de Melo, 37 anos, que apesar de já estar no meio musical há mais de dez anos, tem impressionado o público religioso - e também chamado a atenção de céticos - com mais intensidade no último ano, depois que lançou seu novo CD ''Vida''. |
Em uma entrevista exclusiva à FOLHA minutos antes do show que realizou no domingo, em Cianorte (80 Km a leste de Maringá), ele falou sobre seu trabalho e também sobre a decepção com a maneira que alguns meios de comunicação têm divulgado seu trabalho e seu lado pessoal.
Feliz em passar por terras paranaenses o padre lembrou que na época de seminarista morou dois anos em Terra Boa (46 km ao norte de Campo Mourão) e foi lá que compôs todas as músicas do seu primeiro CD ''De Deus um Cantador''. ''Eu estava fazendo uma pós-graduação aqui e trabalhava no seminário. Na época eu estava me preparando para a Teologia. Tenho grandes amigos no Norte do Paraná, gosto muito daqui, tenho uma ligação muito forte'', comentou.
Mineiro de Formiga, padre Fábio contou que a sua família sempre foi religiosa e que a vontade de ser padre surgiu quando ainda era criança. Ele entrou no seminário aos 16 anos. Ordenado sacerdote em 2001, há dois anos ele se desvinculou da congregação Sagrado Coração de Jesus (SCJ) e passou para a Diocese de Taubaté.
Segundo ele, o que mais o motivou a deixar a congregação foi a ''incompatibilidade de projetos''. ''A vida religiosa me possibilitava uma certa liberdade; o problema eram as atribuições que eu tinha dentro da congregação, que eram muitas. Eu era professor universitário e a prioridade que a congregação esperava de mim não era a comunicação, mas sim o trabalho universitário. Então chegou um momento que eu preferi fazer a opção de ficar com a comunicação'', explicou.
''As pessoas às vezes me tratam muito mais como um artista que saiu do nada e não é isso. O que me evidencia hoje é o meu trabalho de evangelização, que vira notícia porque ele é diferente'', afirma padre Fábio, garantindo que seu objetivo é anunciar o Evangelho e nada mais. Segundo ele, o público que vai aos seus shows não tem uma religião definida. ''Quem é que está aqui nesse show? Temos evangélicos, céticos, católicos, enfim, isso é uma riqueza muito grande. O desdobramento dessa experiência é a fraternidade que surge, poder ajudar pessoas que precisam, isso tudo é o mais importante.''
Quanto às críticas que recebe por ser um padre fora dos padrões, ele é enfático e diz acreditar ser natural, principalmente quando os comentários partem de pessoas que não conhecem seu trabalho. ''Eu acho que todo mundo critica de acordo com o conhecimento que tem. Pode até parecer meio mercenário para uma pessoa que não acompanha o meu trabalho. Porém, não é a visão daqueles que me conhecem. Tornar-se público é sempre estar sob o foco de críticas positivas e negativas e eu sei que comigo não vai ser diferente.''
Para o padre, ouvir depoimentos de fiéis que confessam ter mudado suas vidas por meio de sua palavra é o que o faz ter certeza da ''ternura do ofício''. Para ele, quanto mais o seu trabalho é divulgado, maior é a responsabilidade. ''Fiquei público porque sou padre, faço um trabalho de evangelização que hoje é diferente'', reforçou, para encerrar falando sobre a inspiração de sua religiosidade: ''O processo religioso é o despertar da sensibilidade pra olhar a vida de todo dia. Não tem nada de extraordinário acontecendo na nossa vida, mas tudo isso é sinal de Deus. Isso é bonito demais. Na descoberta da humanidade você descobre também o que é Divino e que não existe uma separação nisso'.
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Texto extraído de:
FOLHA DE LONDRINA
03/02/09