VIOLÊNCIAS DECLARADAS E VIOLÊNCIAS VELADAS
Ato violento é tudo aquilo que atenta contra a pessoa e lhe causa danos. O contexto da violência é bastante amplo. Ela pode se manifestar de formas muito diversas, de maneira que podemos, falar de violência declarada e violências veladas.
Quando falamos de violência declarada, estamos lidando sobretudo com os atos da corporeidade. O corpo que sofre a violência. Nele, há evidência que houve uma invasão de territórios, um delito.
Por outro lado,as violências veladas são as invasões sutis que não podem ser vistas com facilidade. Trata-se de um processo silencioso com o poder de minar a subjetividade humana.
Os violentados não exibem marcas no corpo que denunciem a violência, porque não há agressão física. O que se agredi é mais profundo, vai além do que nossos olhos podem ver. O que há é um processo de rendição por meio do medo e da coação.
As relações humanas estão sempre vulneráveis aos riscos dos atos violentos velados.
Umas das conseqüências da grande crise de valores vivida pela sociedade contemporânea é justamente a indefinição dos papéis familiares. Se no passado existia o risco da autoridade exacerbada, hoje vivemos o risco da ausência de referencial de autoridade.
Pais que não sabem como dosar a liberdade de deixar que os filhos cresçam. Pais que não sabem realizar a intervenção necessária para ajudar a nortear o crescimento. Filhos já não sabem ser filhos, na mesma medida que pais não sabem ser pais.
Nesse descontrole, que tem sempre como foco o desejo de acertar, encontramos uma violência velada sendo praticada contra crianças e adolescentes.
Quando um progenitor permite que o filho faça o que bem entender de sua vida, uma violência terrível é cometida.
Expor uma criança à necessidade de ser um adulto ou exigir dela a compreensão de um universo diferente do seu é o mesmo que expô-la à orfandade.
Violências veladas e violências declaradas. Ambos privados da relação que tem o poder de promover a dignidade e o aperfeiçoamento do humano.
Obra :Quem me roubou de mim
Autor:Fábio de Melo
Paginas;71-74
Editora;Canção Nova
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