De Adão ao Cristo
Cada vez mais eu me convenço de que a arte é um processo redentor. Redenção é esta experiência que podemos fazer de ser retirados de um lugar inferior e ser colocados num lugar nobre. É ser levado da condição "Adâmica" à condição "Crística". Deus tira o ser humano da miséria do pecado e o leva à redenção. O Gêneses é uma história contada de forma metafórica para que entendamos uma verdade que não pode ser compreendida com facilidade. A história de Adão e Eva nos mostra o início do processo redentor, pois o início da nossa redenção está no contato do ser humano com a sua fragilidade, que acontece com a primeira queda.
Quando olhamos para uma criança recém-nascida e um padre nos explica que aquela criança é pecadora, é difícil de entendermos, pois é uma criança e não nos passa uma imagem de pecado pela inocência que traz em si. O contexto do pecado original se dá quando temos a consciência que a criança nasceu da raiz "Adâmica" e não porque ela tenha atos pecaminosos, se eu sou humano, eu sou marcado pelo limite original por fazer parte desta raiz. Limite é quando sabemos que temos condições precárias. O nosso corpo, por exemplo, tem limites, nossa pele tem limites, se nos expormos ao sol forte vamos nos queimar além do limite
Quando olhamos para uma criança recém-nascida e um padre nos explica que aquela criança é pecadora, é difícil de entendermos, pois é uma criança e não nos passa uma imagem de pecado pela inocência que traz em si. O contexto do pecado original se dá quando temos a consciência que a criança nasceu da raiz "Adâmica" e não porque ela tenha atos pecaminosos, se eu sou humano, eu sou marcado pelo limite original por fazer parte desta raiz. Limite é quando sabemos que temos condições precárias. O nosso corpo, por exemplo, tem limites, nossa pele tem limites, se nos expormos ao sol forte vamos nos queimar além do limite.
O conceito de limite não é contrário ao humano, ele lembra que não podemos fazer alguma coisa porque nos faz mal. O problema é quando desconsideramos o limite que é próprio de nossa humanidade e isso se torna pecado, ou seja, o pecado entra verdadeiramente na nossa vida no dia em tenho consciência dos limites da minha vida e mesmo assim eu me exponho a eles.
A partir do momento que eu saio do limite, eu caio no pecado. O primeiro pecado da humanidade foi justamente sair do limite. O paraíso é um lugar que foi cercado para que ninguém se perdesse, pois Deus estava ali, o lugar do encontro, não é prisão. Delimitar o espaço é você proporcionar a alguém a experiência do encontro, se você realmente deseja ajudar alguém a chegar a algum lugar, você vai se empenhar em limitar ao máximo a informação que você dá, mas aí é que está o perigo, quando nós pedimos a informação para alguém que não está muito feliz ou não está muito desejoso que a gente chegue ao destino.
O primeiro pecado, a queda original, aconteceu porque alguém não compreendeu o conceito de limite, não compreendeu o espaço delimitado e se perdeu. O conceito de limite está cada vez mais claro dentro de nós e por isso seremos mais exigidos, como Deus nos diz: “quanto mais for dado, muito mais será exigido”.
Jesus nos diz que é impossível viver servindo a dois senhores. Não é possível viver duas realidades que naturalmente não se conciliam. Seus limites precisam ser aclarados, nós precisamos cada vez mais saber sobre o que nós podemos e o que não podemos. O que Cristo realiza na condição de Adão atinge a todos nós, a "cristificação" do universo está acontecendo em nós agora, mas só tomamos posse disso, quando estabelecemos o limite do nosso território, quando reconhecemos o nosso paraíso e tomamos conta dele.
O papel do artista de hoje é anunciar as belezas do paraíso, as belezas do limite, é transformar a pedra em ouro, é devolver a graça ao desgraçado, é devolver o sorriso a quem não sabe mais sorrir. Eu estou cada vez mais assustado com o que apresentam às nossas crianças como arte. Se você não fechar as portas do seu paraíso para aquilo que eles oferecem como forma de entretenimento, você terá grandes problemas com seus filhos à medida que crescem. O tipo de arte secular que hoje são oferecidos a nós e às nossas crianças não molda caráter de ninguém, e por isso devemos ter cuidado com aquilo que deixamos entrar em nossas casas, pois nossos paraísos estão sendo ameaçados continuamente.
Quantas coisas vemos por aí que nos parecem inocentes, mas não são. Precisamos fazer o exercício diário de analisar aquilo que entra em nossas casas. Será que estamos fazendo o esforço necessário para chegar na Glória do Cristo? Você pega uma criança e tudo o que você fala a ela, as danças que ela aprende, as coisas que ela vê de nós, vão sendo registradas na mente.
Preciso saber que é necessário a cada dia preservar o meu encontro com o Senhor, pois se não vivo esta transição de Adão para o Cristo, que não será fácil, nos perdemos pelo caminho. Quando o Adão vence dentro de nós, quando Eva vence dentro de nós, sabemos muito bem quais são os efeitos disso em nós, mas quando o Cristo vence dentro de nós, podemos experimentar coisas maravilhosas. Quando olhamos para o que éramos e para o que Cristo nos tornou hoje, vemos a ponte que já atravessamos.
O bom é que sempre teremos duas figuras para observar, podemos perceber o quanto que a gente consegue ser igual a Adão e isso não requer esforços. Agora se você colocar ao lado de Adão a condição de Jesus, o jeito como Jesus viveu, o que Ele falava, a maneira que Ele via, aí você verá a diferença, e para ser igual a Ele dá trabalho.
Deus não têm fronteiras para transformar corações, Ele não precisa de tempo para transformar nossos corações, Ele a qualquer tempo, a qualquer hora pode nos transformar, pode nos convencer a sair da condição de Adão ou da condição de Eva. A condição "crística" é como uma pedra preciosa e se nós não enfiarmos as mãos nesta terra, se nós não enfiarmos a mão neste barro de Adão, nunca iremos conseguir retirar esta pedra. Vamos morrer possuindo uma riqueza, mas sem tê-la nas mãos.
Que tudo aquilo que for falado, que tudo aquilo que for ritualizado nos leve ao Cristo, nosso destino é o Cristo, é para Ele que fomos feitos e Nele que precisamos ser reconfigurados. A arte é o desafio de tirarmos os pesos que pesam sobre a humanidade. E o alívio de Deus na experiência humana. É ter a possibilidade de proclamar com o corpo, com a arte que Deus é redentor e que o limite estabelecido é o lugar onde a redenção acontece.
O que hoje você poderia pedir que Deus pudesse modificar em você? Qual é a arte que Deus poderia fazer em você hoje? Nós muitas vezes somos como uma pedra, um mármore que precisa ser talhado. Hoje Deus está aqui e quer nos atingir, quer tirar de nós todos os excessos, todas as arestas que fazem com que nos esbarremos, sem alcançar aquilo que precisamos.
O teu caminho é o Cristo, o teu destino é o Cristo!!!
Padre Fábio de Melo
(II FESTIVAL DE ARTES CANÇÃO NOVA)