A diferenciação que agora faremos tem como objetivo apenas um favorecimento didático. Tratar do seqüestro da subjetividade na comparação com o seqüestro do corpo não significa que estamos fazendo uma ruptura entre a materialidade do ser humano e sua subjetividade.
Sabemos que com o aprisionamento do corpo toda a subjetividade sofre também. Já no seqüestro da subjetividade nem sempre, há sofrimento imediato do corpo. O que há é o sofrimento psicológico que, com o tempo, refletirá no corpo.
Há casos de seqüestro da subjetividade que desembocam em violências físicas também, mais tais violências não fazem parte do processo inicial, porque o seqüestrador não poderá seduzir sua vítima pela força da violência, ao contrário, inicialmente será dócil, cortês, gentil e usará de todas as artimanhas para que a sedução seja bem-sucedida.
Outro aspecto também interessante a ser lembrado é que em alguns casos de aprisionamento do corpo a subjetividade consegue ser preservada livre. Tudo depende da capacidade que o ser humano tem manter-se na posse de si, mesmo quando tudo parece contrário.
Há prisões que são mais paredes e celas. Há prisões que não são concretas, e por isso não há nada que possa concretamente ser quebrado.
É importante termos claro que o seqüestro do corpo é uma realidade menos comum, mas o seqüestro da subjetividade é um fenômeno que há todo momento acontece em nosso meio.
É seqüestro da subjetividade tudo aquilo que nos priva de nós mesmo.
É seqüestro da subjetividade todo o processo que neutraliza e impede o ser humano de conhecer-se, passando a assumir uma postura ditada por outros.
É seqüestro da subjetividade a projeção da vida humana em metas inalcançáveis
É seqüestro da subjetividade a projeção da vida humana a partir de metas rasas, em que a mediocridade é a regra a ser considerada.
É seqüestro da subjetividade a redução da experiência religiosa ao horizonte histórico, dissociado de uma esperança que extrapole a experiência do tempo.É seqüestro de subjetividade a experiência religiosa que esquece o cheiro humano da dor, da desesperança e que se limita a promessas de um céu futuro.
È seqüestro da subjetividade cada vez que o coletivo prevalece sobre o particular, massacrando-o em vez de incorpora-lo como parte irrenunciável.Mas também é seqüestro da subjetividade cada vez que o sujeito é valorizado em detrimento de uma multidão que perde a voz para que ele possa gritar sozinho.
È seqüestro da subjetividade quando alguém, no exercício de imaginar, projeta o outro como personagem.
É seqüestro da subjetividade toda relação de trabalho que seja marcada pelo desrespeito à dignidade do trabalhador.
É seqüestro da subjetividade cada vez que, no processo educacional, as crianças são submetidas à pedagogia do medo e o aprendizado se torna um fardo, deixa de ser um desejo.
É seqüestro da subjetividade cada vez que o sujeito é desconsiderado como organismo vivo, colocado na condição de mecanismo, objeto manuseável.
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