O MENINO QUE ME LEVA...
O desenho de nuvens é sempre um encanto diante dos olhos de quem ainda não cresceu demais. Infância resguardada, e que não impede a maturidade. Apenas um detalhe de criancice preservada; coisa que não faz diferença na somatória final que nos confere responsabilidade.
Tenho descoberto um menino escondido em meu corpo crescido. Vem quando menos imagino; e vem querendo ficar.
O desassossego é próprio dos tempos de transição. Há tantas felicidades do outro lado da ponte, mas antes é preciso a travessia. Mas eu não tenho direito de esperar por felicidade alguma. Travessia também é lugar de felicidade. Aprendi a duras penas. Pena que por vezes me esqueço.
Eu não quero esquecer tantas coisas, mas eis que vem o menino e rabisca minha agenda e me convida para uma vagabundagem inocente. A chuva caindo lá fora, e ele gritando aqui dentro de mim, pedindo pra eu retirar os sapatos, correr na chuva e colocar na enxurrada, barquinhos de papel.
Esse menino não tem jeito, mas é ele que dá jeito em mim. Quando a vida fica dura demais para ser enfrentada, ele me presenteia com um jeito engraçado de ver os fatos. Aí eu rio e durmo sem os medos que me acordaram no meio da noite.
A vida é assim. Quando o adulto não suporta o peso há sempre um menino escondido, pronto para nos ajudar a continuar.
Eu continuo, mas continuo porque há um menino me conduzindo, não me deixando desistir. Ele me conduz pela mão...
(Pe. Fábio de Melo)