LIBERDADE: DO SIGNIFICADO Á REALIDADE
Já somos livres, mas ainda não. Trata-se d uma perspectiva muito interessante que pode ser explicitada de maneira simples a partir de uma frase:Nem tudo o que temos já é nosso, porque carece ser conhecido e conquistado. Já parou para pensar nos inúmeros talentos e habilidades que você possui, mas que ainda não desenvolveu por falta de cultivo? Há talentos que só poderemos saber que os possuímos se fizermos alguma coisa para desperta-los.
Liberdade é semelhante a um talento. A conquista da liberdade se dá no mesmo processo de “tornar-se pessoa”.
A “tomar posse de si mesma”, a pessoa torna-se livre para ser para o outro.
Toda vez que sofremos uma violência, de alguma forma nossa liberdade é ameaçada. A violência, declarada ou velada, aprisiona nossa humanidade e a priva de viver o desafio de alcançar a si mesma.
Por isso, o desafio humano da liberdade consiste em tomar posse do que se é, mas que ainda não foi totalmente alcançado. Vamos nos remeter ao contexto da filosofia de Aristóteles.
Há duas categorias filosóficas explicitadas na reflexão de Aristóteles.
No afã de explicar a realidade, Aristóteles estabelece as categorias de “ato e potencia”. Para ele, o movimento da vida parte sempre da potência ao ato, da privação à posse. O ato é também potência porque está na circularidade do movimento.
É “ato” tudo aquilo que já é. É “potencia” tudo aquilo que o ato ainda pode ser. Difícil? Creio que não.
È possível simplificar. Uma árvore é um ato em potência de se tornar inúmeras cadeiras. A árvore é ato, mas é cadeira em potência, da mesma forma como pode ser também uma mesa.
Além delas, Aristóteles estabelece duas outras que serão fundamentais para nossa reflexão. São as categorias de “essência e acidente”.
Essência é o fundamento que gera a realidade, isto é, que a faz ser o que é. A essência d´liberdade ao ser. Já o acidente é apenas um elemento que se refere à essência, mas que não é determinante para o que é essencial.
Para a Antropologia teológica cristã, a liberdade é considerada a partir do dom que se concretiza aos poucos, por meio do esforço humano. Apesar de livres, ainda não somos totalmente o que somos, isto é somos livres mas ainda não experimentamos prisões em nossa vida.
O ser humano se constrói aos poucos. Tudo já está nele, mas é preciso conquistar-se, alcançar a essência.
O fundamental já nos foi entregue. Cada ser humano, ao seu modo e tempo, vive está aventura de desvendar-se.
O autoconhecimento é condição irrenunciável para uma existência feliz e realizadora. Nenhuma realização é possível quando se desconsideram os elementos constitutivos da sua condição. Ser humano é poder, mas também é carecer.
A liberdade é elemento constitutivo do humano; é estatuto, condição, mas precisa ser considerada como dom que se desdobra na tarefa.
A liberdade que há em nós precisa ser libertada. Será necessário crescer, lutar para alcançar tudo o que já é, mas em potencial.
Obra: Quem me roubou de mim?O seqüestro da subjetividade e o desafio de ser pessoa
Autor: Fábio de Melo
Páginas81-84
Editora: Canção Nova